A esgrima em Viana do Castelo teve o seu início pela mão do Mestre Luís Braga. Hoje, no concelho, apenas na Escola Desportiva de Viana (EDV) é possível praticar esta modalidade. Muitas vezes associada a um imaginário de reis e princesas, a esgrima é um desporto exigente física e mentalmente. Se no passado, saber manejar uma espada servia para salvar vidas, hoje em dia serve para conquistar medalhas e na EDV é o que mais sabem fazer. O Desporto em Viana conversou com o diretor da modalidade, André Afonso, e com um dos treinadores, José Luciano, para procurar conhecer a modalidade e divulgar este desporto secular.
Em que consiste a esgrima?
José Luciano (JL): A esgrima é um desporto de combate extremamente simples. Há dois oponentes e o objetivo é tocar sem ser tocado. Depois há três armas com regras específicas. Há a espada, que reflete o duelo puro e onde jogamos com aparelhagem elétrica. Na espada há uma luz que se acende quando existe um toque e, portanto, facilmente se percebe quem ganha o ponto. No florete e no sabre está-se a implementar esse procedimento. Há zonas específicas de contacto em função das armas. No florete é só o tronco (excluindo braços), na espada é o corpo todo e no sabre é só da cinta para cima. O equipamento básico é constituído pelo “gillet”, a calça, a luva e a máscara. Na esgrima não se consegue vencer se não se pensar. Já alguém em Portugal comparou a esgrima a um jogo de xadrez disputado à velocidade da luz pois são poucas as oportunidades de resolver os problemas que o adversário nos coloca e temos de os resolver em frações de segundo. Ou se consegue pensar muito ou não se consegue ganhar. É preciso controlar muitíssimo bem as oportunidades que surgem e executá-las no momento exato. Na esgrima é muito importante controlar a distância, a altura ideal para tocar o adversário, controlar o tempo de entrada e a velocidade. Estes fatores são fundamentais. É uma modalidade muito importante para o crescimento de uma criança porque ajuda a desenvolver a concentração. Para além disso, permite-lhes treinar o raciocínio rápido e agilizar a tomada de decisão.
André Afonso (AA): Há pais que já me disseram que rapidamente notam uma grande diferença nos filhos.
Qual é a diferença entre florete, espada e sabre?
JL: O florete começou por ser uma arma de treino, sendo mais leve do que a espada, uma arma de combate e duelo. O florete consiste mais num “bailado” executado a uma velocidade elevadíssima e que exige muita técnica. A espada é muito menos visível. Passa mais por esticar e, às vezes, não se percebe muito bem o que se faz. É mais simples para quem está a ver pois apenas um dos lados ou os dois lados são tocados. O sabre é parecido com o florete, mas tem uma nuance, porque tanto toca de ponta como de lado.
Quais são as exigências para um atleta de esgrima?
JL: Tem que ter uma boa preparação física. Nós temos um trabalho de pernas muito acentuado. Não trabalhamos muito a parte superior, mas as pernas precisam de muita musculação.
AA: É um esforço contínuo e explosivo. Depois há um período de recuperação.
Como está organizada a esgrima em Portugal?
JL: Há uma federação nacional que dinamiza o calendário competitivo. A partir desta época os clubes do norte, estamos a falar de Viana, Barcelos, Braga, Porto e Espinho, vão fazer um circuito regional para os mais novos (benjamins e infantis). No fundo, apesar de não haver uma associação, há um conjunto de clubes que vão fazer e gerir essa competição.
É o primeiro ano que isto vai acontecer?
AA: Sim, anteriormente os escalões competiam a nível nacional. Com as idas a Lisboa nós somos mais prejudicados com as despesas. Estamos a tentar que as provas de esgrima tenham um custo menor com provas no norte e no sul e um campeonato nacional.
Como está organizada a competição?
JL: A esgrima tem três armas e mediante a arma depois há escalões e divisão de géneros, masculino e feminino. Aqui em Viana só fazemos florete. As provas têm uma primeira fase onde os atletas integram um quadro. Depois é por eliminação direta. Há competição individual e por equipas. A classificação das equipas depende da prestação individual.
Quantos praticantes tem atualmente a EDV?
JL: No total temos 15 atletas. Este ano entraram três e estamos à espera de mais.
Como fazem a captação de atletas?
AA: A captação é feita através da divulgação de flyers, com apresentações, demonstrações. No ano passado houve uma ação num colégio, em que durante oito meses houve práticas de esgrima. Tem sido muito complicado trazer novos atletas. Não sei se os pais têm medo, mas há uma barreira que não conseguimos passar. Relativamente ao material, até aos infantis nós fornecemos, mas quem quiser pode comprar. Quando alguém entra em competição já deve ter o seu próprio material para o conhecer bem e não correr riscos. É muito importante estar bem adaptado ao florete. Infelizmente, muitas pessoas nem sabem que há esgrima em Viana!
Quais são os objetivos para esta época?
JL: Os objetivos variam nos três escalões etários. Os seniores estão a disputar o circuito mundial e estão a tentar o apuramento olímpico, através de Gael Santos. Por sua vez, os Juniores vão disputar o circuito mundial de juniores. Os mais novos vão integrar o circuito nacional, onde pretendemos fazer um circuito regional numa primeira fase e depois transferi-los para o circuito nacional.
Quais são os principais títulos conquistados pela EDV?
JL: Tivemos um atleta, o João Gomes, que participou três vezes nos Jogos Olímpicos. Também foi campeão da Europa por equipas, medalhado na Taça do Mundo. Atualmente está em Lisboa e é treinador. Atualmente temos o Gael Santos, que esteve no Top 20 Mundial em Juniores. Fez duas finais em taças do mundo e está a fazer preparação para jogar no campeonato do mundo, em outubro.
Qual é o segredo deste sucesso?
JL: Muito trabalho.
Quando começou a esgrima em Viana do Castelo?
JL: A esgrima começou por estar ligada ao Vianense e à Mocidade e depois parou. Em 1976 recomeçou, através dos Planos de Desenvolvimento da Direção Geral dos Desportos. Primeiro foi um núcleo e entretanto passou para a Juviana, um clube mais dedicado ao Judo, mas que também tinha esgrima. Nos finais de 80 passou para a EDV.
Qual foi o vosso percurso na esgrima?
JL: Eu comecei em 1976 no clube da DGD, treinado pelo mestre Luís Braga. Cheguei a treinar, com os meus colegas, seis meses seguidos com a promessa de que ir fazer uma prova a Lisboa, que acabei por ganhar. Fui campeão nacional por equipas e participei em vários campeonatos do mundo. Passados uns anos começa-se a sentir as pernas um pouco pesadas e tive que encostar as sapatilhas. O percurso da Eugénia Queirós (treinadora na EDV) é igual ao meu, mas mais recheado de títulos. Ela foi campeã nacional diversas vezes.
AA: Eu tive uma pequena experiência quando era miúdo. Agora estou cá por causa das minhas filhas.
Reportagem: José Domingos Ribeiro
[Artigo publicado no site "Desporto em Viana" em parceria com a EDV]
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